Nas terras frias de Aveiro
Nas ondas quentes africanas
Deambula o homem herdeiro
De um país entre cabanas
Entre fardas desusadas
Muitas canções, muito fado
Voou entre pássaros e asas
Dos que deixavam este lado
E o Zeca de partido liberdades
Que espalhou palavras no breu
Deu apoio, criou vontades, amizades
Fez fogo fulgente farpas e céu
Tudo acaba, tão somente
A vida, o sonho e o sono
Fica o alegre já simplesmente
E uma balada de Outono:
Uma noite um adeus sono vazio
águas das fontes choupos laranjais
as palavras levadas pelo rio
ó ribeiras chorai não mais não mais.
Ó ribeiras calai-vos anjo negro
cavaleiros vampiros rosa fria.
As palavras caíam no Mondego
era Outono e só ele se despedia.
Partir para Marrocos ou Turquia
embarcar na falua de Istambul
dobrar o cabo da melancolia
partir partir partir mais para o sul.
Ouve lá Zeca Afonso: e a cantoria?
- Preciso de partir para outro fado.
E havia em sua voz o que só havia
do outro lado.
Havia Bensafrim e a hospedaria
Um redondo vocábulo e um sino.
As bruxas. Mafarricos. Alquimia
para mudar o canto e o destino.
Por isso aquela noite sem saber
era outra a canção que lhe nascia.
Havia em sua voz uma estátua a arder
e Grândola era o país que não havia.
O calor de mais cinco e amizade.
S. Francisco de Assis: voz companheira
para levar aos pobres da cidade
uma canção à sombra da azinheira:
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina um amigo
Em cada rosto igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola a tua vontade
E para que esta merda de censura acabe:
Viva Zeca Afonso
Sempre Liberdade.